Decoração ousada e arte compõem apartamento de jovem casal em São Paulo. Texto: divulgação | Fotos: Carolina Lacaz

A coleção de mobiliário modernista e arte brasileira estabeleceu o ponto de partida para o projeto de arquitetura e interiores do apartamento de 220 m² no bairro Jardins, em São Paulo. “Encontrar paredes suficientes para exposição dos trabalhos foi nosso grande desafio”, explica Klaus Schmidt, à frente da KAS ARQ, que assina o projeto em parceria com a arquiteta Daniela Garcia. Trata-se de um ambiente elegante, com atmosfera jovem, dedicado à vivência e à contemplação da arte. Apaixonados por manifestações artísticas e culturais, o jovem casal traz diversas referências para dentro de casa, que resultam numa decoração criativa e nada óbvia.

“Bastante antigo, o apartamento passou por uma reforma completa, que incluiu algumas adequações de layout”, conta Daniela, ao explicar que um dos quartos foi ampliado e convertido em closet e que a rouparia surgiu a partir da simplificação do hall íntimo, que era sinuoso e demasiadamente amplo. Na área social, privilegiaram a amplitude do espaço ao integrar sala de jantar, sala de TV e living, uma configuração confortável para reunir os amigos.

O living tem paredes texturizadas na cor branca, versáteis para exposição das obras. O branco serve como pano de fundo para as obras de arte, conferindo a elas o protagonismo necessário, e Klaus esclarece que a escolha da textura foi uma solução pensada para disfarçar as marcas deixadas pelos parafusos. “Desse modo, a movimentação das obras é facilitada, sem deixar ‘cicatrizes’ evidentes nas paredes. Isso é especialmente importante quando se trata de uma coleção em constante evolução, onde a rotação das peças é algo rotineiro.” Em meio a todo o branco, a porta de entrada na cor mostarda traz personalidade ao ambiente.

Detalhes específicos

As peças de mobiliário mid-century escolhidas são, em sua maioria, de jacarandá. “Por isso, optamos pelo pau-ferro nos móveis feitos com marceneiro, pois a tonalidade e o desenho da madeira entram muito bem com o jacarandá. O pau-ferro foi utilizado em todos os cômodos, da cozinha aos quartos”, conta Daniela. O destaque está para o closet master, onde a combinação da madeira com os espelhos ovais e puxadores em latão escovado remetem à decoração da época modernista brasileira.

Com o intuito de reforçar o estilo dos anos 60 que o casal buscava, adotou-se um piso em madeira cumaru com paginação espinha de peixe, comumente encontrado nos antigos apartamentos daquele período. O toque de contemporaneidade ficou por conta do rodapé invertido, fazendo com que as paredes pareçam ‘flutuar’ no encontro com o piso. “O piso em cumaru, a marcenaria em pau-ferro e o mobiliário em jacarandá criam uma linda combinação de madeiras nobres que conferem um ar sofisticado e atemporal ao projeto”, pontua Klaus. 

Atmosfera branca

No hall de circulação, o painel de marcenaria em laca branca camufla as portas, que são só percebidas devido aos puxadores, desenhados especialmente para o projeto. Atrás de cada porta, uma surpresa: os acabamentos foram escolhidos cuidadosamente, visando criar uma atmosfera única para cada cômodo. “Quisemos gerar o efeito surpresa ao entrar em cada ambiente, cada qual possuindo sua própria paleta de cores, texturas e revestimentos”, exaltam.

O lavabo possui texturas naturais variadas: as paredes rústicas na cor terracota ornam com os cobogós de barro “Mãos” desenvolvidos pelo Estúdio Campana, em homenagem à tragédia de Mariana e Brumadinho, que decoram do piso ao teto a parede principal. Os metais em latão e o espelho jacarandá, de Sérgio Rodrigues, adicionam delicadeza e sofisticação, contrastando com a robustez da cuba esculpida em granito maciço.

Mais cores

Na cozinha, por sua vez, encontramos uma atmosfera mais colorida, com piso e armários em verde pistache. A alusão à arquitetura de época fica por conta do ladrilho hidráulico, com desenho e cores escolhidas a dedo para o projeto. Um toque de ‘cozinha de casa de vó’ faz dessa área um ambiente quente e acolhedor. Os gabinetes inferiores em pau-ferro funcionam como elemento de transição entre o verde do piso e o verde dos armários suspensos, assim como as bancadas em quartzo calacata, que desempenham a mesma função.

Já no dormitório de hóspedes, o predomínio do vermelho fica evidente pela mobília e decoração, com destaque para o banheiro, cujo protagonista é o box revestido com cerâmica modernista vermelha. O espelho circular sobreposto ao frontão e os metais black matte dão o toque contemporâneo, também presente no banheiro master, com a diferença que este, mais sóbrio, foi inteiramente revestido com mármore branco, incluindo a pia esculpida na mesma pedra.

Mobiliário e arte

Acerca dos móveis, foi realizada uma extensa pesquisa dos anos 50 e 60. “Fomos muito felizes em encontrar verdadeiras jóias. Um carinho especial pelo par de poltronas Tripé da Lina Bo Bardi, garimpadas na galeria Apartamento 61”, comemora Schmidt. Joaquim Tenreiro, Sérgio Rodrigues, Jorge Zalszupin, Percival Lafer, entre outros, compõem o mobiliário da residência.

Um capítulo à parte, as obras de arte merecem atenção especial. O trabalho da série “Eu Mestiço, 2017” de Jonathas de Andrade, que representou o Brasil na Bienal de Veneza de 2022, é o ponto focal da sala de estar. As figuras, dispostas sobre o sofá de Jorge Zalszupin, e o jogo de palavras que avança até a sala de TV, chamam a atenção dos visitantes. Também na área de estar, “O Vestido, 2018” de Leda Catunda, produzido para a Bienal de São Paulo de 2018 e exposto no Museu Malba de Buenos Aires, se destaca entre as grandes janelas arqueadas.

No quarto principal, encontramos algumas preciosidades. Sobre a cabeceira, uma linda coleção de telas da mineira Maria Lira Marques, que parece encomendada para o projeto, tamanha sintonia com a decoração. Em menor quantidade, mas igualmente ‘sumisura’ para o local, estão os três trabalhos de Paulo Monteiro, que compõem o visual sobre a cabeceira do cômodo de hóspedes.

Serviço

Para mais informações sobre este projeto, acesse www.kas.arq.br/