Sexta-Feira, 08 de Dezembro de 2023

Ode à cultura brasileira

O olhar incomum de Sérgio J. Matos revela-se em peças que parecem brotar de autênticos cenários em rincões do país. As criações do designer ultrapassaram rapidamente as fronteiras nacionais por apresentarem uma leitura original da cultura brasileira.

Lançada em 2016, a estrutura da cadeira Coral é feita em aço inoxidável que deixa em evidência o revestimento executado com corda naval nos tons de uma cobra coral – coral, branco e preto

Dono de uma produção original e nacional, o mato-grossense Sérgio J. Matos é conhecido mundialmente por imprimir em suas peças identidade e tradição, principalmente do nordeste do Brasil. Formado pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) em 2005, Matos escolheu a cidade paraibana para viver e trabalhar. O currículo do designer acumula prêmios como o Design Excellence Brazil (Poltrona Balaio, Banco Xique-xique e Pufe Carambola ,em 2011), iF Product Design Award (Pufe Carambola, Alemanha, em 2012) e Be Open (2014) pelo desempenho criativo do estúdio. Na recente edição da International Contemparary Furniture Fair (ICFF, New York, 2018), Matos levou a premiação de melhor mobiliário de área externa entre todos os expositores da feira global. A conquista é parte do Projeto Raiz, iniciativa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis). A seguir, você confere uma entrevista exclusiva com o profissional que incorpora de maneiras nada óbvias pitadas da cultura brasileira.

Você nasceu no Mato Grosso e estudou em Campina Grande, Paraíba. A cultura desses locais exerce algum influência direta sobre sua produção? 
Se existe algum lugar no mundo que modelou o que eu faço hoje e me influenciou foi a Paraíba, minha grande fonte de inspiração. Do Mato Grosso, eu só consegui desenvolver uma única peça, com a identidade de uma comunidade local chamada Bacairis (Kurâ Bakairi).

Toda peça é fruto da observação, pesquisa, estudo e projeto. Sua produção está cheia de características brasileiras. Onde você busca inspiração na hora de criar? 
Eu busco inspiração no que é regional, em feiras públicas, fotos que eu tiro em viagens pelo Nordeste, pelo sertão, pelo Cariri (Ceará). Isso tudo me inspira para o desenvolvimento das peças

Você consegue um equilíbrio incrível ao incorporar a cultura brasileira a criações contemporâneas. O que é design contemporâneo para você? 
Definir o design contemporâneo hoje é complicado, pois existem vários designers, cada um com a sua identidade e estilos diferentes uns dos outros. Todos eles são diferentes. E contemporâneos também. Não existe especificamente uma só linguagem para o design contemporâneo: ela é múltipla.

Como você vê as questões ambientais considerando o processo de produção do mobiliário? 
Minhas peças sempre foram feitas pensando no sustentável. Num primeiro momento, eram feitas com cordas de algodão. Por uma questão de resistência desse material, tivemos de trocá-lo para cordas náuticas. As peças que eu produzo em comunidades de artesãs no Amazonas são totalmente sustentáveis, de materiais e cores extraídas da natureza de forma responsável.

O que é, de fato, sustentabilidade para você?
Sustentabilidade é pensar a cadeia inteira. Entender o produto do começo ao fim, incluindo o possível descarte dele na natureza. Sempre haverá descarte. Podemos nos pautar por matérias-primas como o alumínio, que pode ser reciclado após o uso. É urgente repensar a prática com o uso de produtos que agridem a natureza. 

O que chama a atenção do mundo quando se fala do Brasil? Por que ainda somos vistos pelo mundo como “exóticos”? 
Não sei se somos vistos como exóticos… Por exemplo, eu estava recentemente na feira Ambiente, de Frankfurt, e havia cinco estúdios brasileiros expondo ali. Cada um tinha uma linguagem própria. A minha, sem dúvida, mais ligada a uma identidade brasileira, em termos de cores e formas. Mas estavam ali expositores de indústria de alta produção, como Brunno Jahara, ou minimalistas, como o Estúdio Rain, e bem conceituais, como Rodrigo Almeida. Não podemos simplificar o Brasil lá fora a uma imagem única. O design brasileiro, hoje é bem mais diverso.

“Definir o design contemporâneo hoje é complicado, pois existem vários designers, cada um com a sua identidade e estilos diferentes uns dos outros. Todos eles são diferentes. E contemporâneos também. Não existe especificamente uma só linguagem para o design contemporâneo: ela é múltipla.”

Você participa de várias feiras nacionais e internacionais. O que tem chamado sua atenção lá fora? Qual a importância de circular nesses lugares?
O que eu escuto nas feiras é que os nossos produtos são frescos, atuais, originais e isso é o que chama a atenção das pessoas. Muitas vezes esta originalidade está no material inusitado que a gente usa, que pode ser uma colher de pau, cintas de cavalo etc. 

Qual é a sua criação preferida? Por quê? Qual é a sua criarão preferida pelos clientes? Por quê? 
Minha criação preferida é a poltrona Acaú, por ter desenvolvido uma técnica nova para produzir essa peça. O projeto demandou expertise do estúdio. Para os clientes, acredito que seja a cadeira Cobra Coral, por ela ter algo de exótico e colorido. As pessoas acabam usando como um objeto de decoração e não necessariamente como uma peça utilitária. 

Cite um designer que admira. 
Quando eu estudava, os irmãos Campana, já estavam no auge. Eles me influenciaram muito. Mostraram que era possível fazer design com o que a gente tem a nossa volta, sem precisar de alta tecnologia por trás.

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