Com vãos de entrada de ar que integram todos os ambientes no alto das paredes, Loft de Patrícia Hagobian é inspirado no deus grego do vento do oeste Zéfiro no seu conceito e no uso de ventilação cruzada. Fotos por Salvador Cordaro. Foto de capa por Pedro Zuccolotto.
Proteção e liberdade. Apesar desses dois conceitos soarem antagônicos, Patrícia Hagobian se apoia fortemente em ambos para criar o Lóft Zéfiro Dunelli, presente na CASACOR São Paulo deste ano. A ideia partiu do atual momento em que vivemos, onde é preciso se proteger da pandemia enquanto se faz necessário tentar sentir a liberdade que nós, humanos, tanto amamos. Com um total de 140 m², o espaço é marcado pela ventilação livre e fora do óbvio.
O conceito tem como base principal Zéfiro, deus grego do vento oeste e que dá nome ao projeto. Indomável e violento, destruía tudo que via pela frente. Para conquistar o coração e não destruir as flores de sua amada Clóris, deusa da primavera, ele precisou se reinventar e domar sua força, tornando-se um vento mais suave e brando.

A narrativa criada pela arquiteta também se apoia em uma frase dita por Fernando Pessoa: “só de sentir o vento passar, já valeu a pena viver”. É em busca da simplicidade perdida que o partido do projeto se apropria de maneira delicada na questão de que a casa, assim como nós, também precisa respirar e, acima de tudo, ressignificar, transformando o espaço em um verdadeiro lar, um refúgio, um lugar seguro.
O velejador
O loft busca contar a saga de um velejador apaixonado pela brisa que, em tempos em que se faz necessário ficar em casa, conduz o vento para dentro de sua casa e da sua alma. A concepção é de um espaço híbrido e multifuncional marcado por “blocos” independentes. A permeabilidade do vento revela, em momentos estratégicos, a linha do horizonte, exibindo pontos de calmaria para o olhar. No convite para sermos mais amigáveis com o planeta, por que não escancarar a janela, deixar a porta aberta e permitir a brisa entrar?
Um respiro
A necessidade de ambientes arejados em uma situação de pandemia é uma das principais características trazidas pelos profissionais da CASACOR este ano. Além da ventilação cruzada, um pré-requisito da própria mostra, o projeto Loft Zéfiro Dunelli traz vãos de entrada de ar que integram todos os ambientes no alto das paredes.
A releitura para criação das lacunas atravessa todas as paredes em aberturas contínuas de 50 cm acima das janelas, dando entrada para o vento e para o céu e tornando o ambiente um dos mais frescos da mostra. Os curiosos vãos trazem a tendência de novos tempos de forma prática, arejando e trazendo segurança sanitária para o ambiente, mas também abraçam a tendência do subjetivo, dualidade entre o sólido e o fluído enquanto traz conforto, respiro e acolhimento.
Casa completa
Logo na entrada do amplo ambiente, patrocinado pela Dunelli, uma porta generosa e pivotante se destaca. Ao adentrar, revela um espaço onde a premissa é leveza.

Ao passar pelo Hall de distribuição, a janela se abre e um volume se forma, demarcando a área da Cozinha e Sala de Almoço. Com o pé direito mais alto e volumes pronunciados, o Living é emoldurado pela vista.

É no espaço mais generoso da casa que a paisagem de tirar o fôlego se anuncia: o Home Office passa a coexistir e permite um momento de absoluto respiro. Em total interação, o closet completamente aberto confere fluidez.

Um novo pórtico se abre e abraça a sala de banho. Não menos importante, o quarto é o espaço mais intimista. Grandes portas de correr permitem a integração. A cama possui linhas verticais trabalhadas individualmente e, ao mesmo tempo, sugerem uma curva, unindo tecnologia construtiva e design artesanal.
No lounge de saída, estantes assinadas pela arquiteta e fornecidas pela Dunelli recebem uma coleção de ampulhetas, fazendo alusão que apenas o tempo pode curar tudo. Se trata de uma coleção que foi reunida ao longo dos últimos dois anos pela própria arquiteta.

Destaque também para as obras de arte e peças assinadas que finalizam a atmosfera do projeto e trazem exclusividade. Nos mobiliários da cozinha, chama atenção a mesa de jantar assinada pelo Studio Luazzu, com acabamento acetinado, cadeiras com estrutura em madeira maciça tauari e assento em fibra de vidro revestida desenhadas por Lattoog, ambos da Dunelli. A iluminação e pendente são desenhados por Albert Murta e Ari Coelho da Natilux. A obra de arte concebida em tule sobre canvas é assinada por Will Sampaio.
Na sala, o sofá e poltronas, idealizadas por Mauricio Bomfim e exclusivos da Dunelli, estão em composição com a mesa de centro e com o tampo em mármore exótico prada nuovo, ornando com os materiais naturais explorados pelo conceito do projeto. A poltrona aramada foi fruto de garimpo e é uma antiga peça francesa utilizada em jardins. Seu autor é desconhecido. A obra de arte intitulada de Super Nova 1 e Super Nova 2 é assinada por Marcelo Macedo e é composta por madeira descartada com pintura acrílica. O artista transita entre criar e recriar, ressignificando objetos ou partes deles que foram jogados fora, gerando combinações e possibilidades. São fornecidas pela Galeria de arte contemporânea Luciana Caravello. Iluminação em trilhos Trinity assinadas por Waldir Junior, da Natilux. Produção e styling por conta de Luiz Whitehead.
