Artigo escrito por Lara Kaiser, diretora de arquitetura de saúde da Perkins and Will
O Brasil vive um acelerado processo de envelhecimento populacional. Pesquisas do IBGE indicam que, até 2060, a população será formada por 19 milhões de pessoas com 80 anos ou mais. Diante deste cenário, o país tem o desafio de desenvolver políticas que não só respeitem, mas, valorizem os idosos.
A arquitetura também tem um papel fundamental neste desafio: considerar as necessidades específicas desse público nos projetos, especialmente em edificações de saúde. Segundo a Agência Nacional de Saúde, os idosos representam cerca de 60% das internações . Dados globais ainda indicam que o tempo de internação para idosos acima de 75 anos é maior que a média do restante da população.
Pacientes idosos apresentam maior propensão ao declínio funcional durante a internação, especialmente em estadias longas. Além dos riscos à saúde, a permanência estendida eleva os gastos com o tratamento – tendência crescente, considerando as projeções do IBGE.
Por outro lado, o aumento da qualidade e, consequentemente, da expectativa de vida gera um novo quadro comportamental. Os idosos são cada vez mais ativos, se exercitam mais, viajam com frequência e participam de um movimento de retorno ao mercado de trabalho. Cada vez mais conectados ao mundo digital, são ainda consumidores bem informados e exigentes.
Chamadas “unidades geriátricas”, as áreas exclusivas para idosos atualmente existentes não atendem esse público por completo. Todo o hospital deve ser amigável ao envelhecimento, oferecendo uma experiência de bem-estar em todas as áreas, colaborando com o processo terapêutico e até reduzindo o tempo de internação e custos com assistência. As necessidades do paciente idoso devem ser atendidas em relação a:
• Ambientes físicos
• Processos de cuidados
• Ética em atendimento clínico
As diretrizes levam em conta os impactos da redução da capacidade funcional na visão, audição, cognição e mobilidade para antecipar possíveis incidentes e criar ambientes adequados. Os direcionamentos ainda orientam a criação de ambientes amigáveis universalmente, isto é, para todas as idades, englobando ainda usuários com necessidades especiais.
Alguns dos fatores arquitetônicos e construtivos a serem considerados são:
Design de interiores
• Salas de espera calmas e pequenas para facilitar conversas confidenciais;
• Leito próximo ao banheiro para reduzir o risco de quedas;
• Banheiros grandes o suficientes para atender as normas de acessibilidade;
• Corredores devem ser largos o suficiente para atender as normas de passagem de cadeiras de rodas e macas, ter pequenas áreas de estar e corrimãos para apoio. Eles também não devem ser muito longos e sem interrupção visual;
• Uso de cores quentes nas extremidades e cores para definir áreas funcionais;
• Evitar o uso de espelhos, que podem causar confusão e agitação;
• Evitar padrões fortemente texturizados para não causar excesso de estímulo visual;
• Definir limites entre pisos, rodapés e bordas e evitar superfícies altamente polidas;
• Uso do contraste de cores para destacar portas, contribuindo com a comunicação visual;
• Comunicação visual bem executada – os sistemas de sinalização devem ser claros e sinérgicos;
Mobiliário
• Mesas robustas, com quatro pernas, e mesas laterais sem rodas para evitar risco de quedas;
• Camas elétricas com ajustes simples para conforto do usuário;
• Cadeiras e poltronas altas, com o mínimo de 45cm, braços estendidos e apoio lombar;

Iluminação
Idosos precisam de ambientes em média 5x mais claros, com 30% mais iluminação em áreas dedicadas a tarefas específicas, como a leitura. O projeto de iluminação deve:
• Utilizar lâmpadas fluorescentes naturais, sem brilho;
• Ter iluminação direta em superfícies verticais;
• Ter luz focada em comunicações visuais, facilitando o wayfinding;
• Garantir níveis consistentes de brilho em áreas adjacentes;
• Promover mudança gradual dos níveis de luz na transição de áreas externas para internas.
• Projeto em desenvolvimento pela Perkins and Will São Paulo Studio

Ruído / Som
Ruídos pioram a qualidade do sono e a comunicação com os pacientes, elevando níveis de estresse e ansiedade. Por isso é necessário:
• Reduzir o uso do sistema de alto falantes quando possível e desliga-los nos quartos;
• Neutralizar ruídos de fundo – por exemplo, sistemas de ventilação e música ambiente;
• Redução de superfícies duras e “ecos”;
• Aplicação de produtos com boa absorção acústica nos tetos e paredes.
Seguindo essas diretrizes, não só é possível reduzir o risco de acidentes e níveis de estresse e depressão, como também criar um ambiente acolhedor, melhorando a experiência ao longo do período de estadia no hospital. Ao acelerar o processo de cura, também contribuímos com a qualidade de vida do paciente, que pode passar menos tempo dentro do ambiente hospitalar. Diante do cenário descrito, é essencial que os hospitais criem políticas e procedimentos que atendam às necessidades especiais de seus clientes seniores.
Referências Bibliográficas:
Champlain District Health Council. Fact Book on Aging. Ottawa: 2001.
Bakker R, Kenny T. Elderdesign: Designing and furnishing a home for your later years. Penguin Books, New York, NY. 1997.