A arquitetura paulista perdeu um dos responsáveis pela sua identidade. O italiano Gian Carlo Gasperini, autor de icônicos edifícios paulistanos, marcou gerações de arquitetos com o ensino na FAUUSP. Por Pedro Zuccolotto
No dia 15 de julho, aos 93 anos, o arquiteto Gian Carlo Gasperini faleceu. Natural de Castellamare di Stabia, em Nápoles, Itália, Gasperini nasceu no dia 20 de agosto de 1926 e
chegou ao Brasil em 1949, onde concluiu a graduação em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre e doutor pela Universidade de São Paulo, além de livre docente pela mesma universidade, Gasperini deixou inestimável legado não apenas pela sua produção, mas pelo ensino preciso, indelével para muitas gerações de alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Era sócio titular do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos.
Com uma ampla gama de projetos realizados, os principais destaques são o edifício e a galeria Metrópole (em colaboração com Salvador Candia) na região central de São Paulo e os edifícios Pauliceia (em parceria com Jacques Pilon) na Avenida Paulista, e Moreira Salles, na República. Ele também foi o responsável pelo projeto do edifício Peugeot, em Buenos Aires, que foi o anteprojeto vencedor do Concurso Internacional patrocinado pela União Internacional de Arquitetos (UIA) em 1962. Também são projetos do arquiteto o Tribunal de Contas do Município de São Paulo, o Credicard Hall, os edifícios-sede da IBM e do Citibank, na capital paulista, e o Auditório Claudio Santoro, em Campos do Jordão.
Em 2010, por conta de seus projetos notáveis, Gasperini recebeu o Título de Cidadão Paulistano. Ele também foi homenageado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2015 devido a seus trabalhos, além ainda dos títulos honoríficos Croix Chevalier Mérite Commercial, do governo da França, o Cavaliere dell’Ordine al Merito dei la Republica Italiana, das autoridades italianas. O arquiteto também foi condecorado como Cavalheiro Donato da Soberana Ordem de Malta.
Tribunal de contas do município de São Paulo
Este edifício, de caráter institucional, foi objeto de um concurso de arquitetura para o qual foram convidados sete arquitetos de São Paulo, sendo selecionado o projeto do escritório Croce Aflalo & Gasperini.
O conceito básico da solução adotada foi dar um grande destaque à função simbólica do Tribunal. Para isso, isolou-se o edifício do terreno, elevando-o dez metros em relação ao nível do solo.
O volume de 70 metros de comprimento sustenta-se em apenas quatro apoios, que são os núcleos estruturais de circulação vertical, com balanços de 17 metros. Criouse dessa forma um amplo espaço livre no nível do solo, formando uma grande esplanada interligada ao setor esportivo da área vizinha, dando continuidade ao espaço livre do Parque do Ibirapuera.
Local: São Paulo, SP
Projeto: 1970
Área construída: 8.900 m²
Pavimentos: 3
Altura total: 40m
Tipo: Institucional
Auditório Claudio Santoro
Inaugurado em março de 1979, esse edifício é um dos principais espaços culturais do município de Campos do Jordão. Desde sua inauguração, é a sede do tradicional Festival de Inverno da cidade. O partido arquitetônico é apoiado no forte conceito do sistema estrutural, com quatro pilares periféricos que apoiam uma cobertura quadrada de concreto aparente. Os pilares são travados por vigas na cobertura, que formam nervuras em diagonal e funcionam também como rebatedores acústicos para o auditório. Sua sala, em formato de anfiteatro, utiliza o desnível natural do terreno para a colocação escalonada da plateia, o que garante uma excelente visibilidade em todos os lugares. Esse auditório foi projetado para receber espetáculos de dança e música, bem como congressos e convenções, tem capacidade para 862 pessoas e conta com uma infraestrutura de bastidores com elevador de cargas, salas acústicas individuais, três camarins individuais, dois camarins coletivos e alojamento para 192 pessoas.
Local: Campos do Jordão, SP
Projeto: 1977
Área construída: 5.740 m²
Pavimentos: 2
Tipo: Institucional
Rochaverá Corporate Towers
O complexo Rochaverá Corporate Towers possui uma localização privilegiada no novo eixo de desenvolvimento urbano da cidade, o eixo Berrini – Chucri Zaidan, na zona sul de São Paulo.
A concepção do projeto desde sua implantação busca a integração com a cidade. Os edifícios estão dispostos nas diagonais do terreno, de forma a criar uma praça central e outras três praças adjacentes junto às vias públicas, delimitando assim espaços semipúblicos, todos abertos para a cidade, sem gradis. O complexo possui sistema próprio de cogeração de energia elétrica, capaz de atender a 100% da carga de forma ininterrupta.
O Rochaverá Corporate Towers foi o primeiro edifício da América do Sul a obter a certificação LEED Gold dada pela USGBC.
Local: São Paulo, SP
Projeto: 1999
Área do terreno: 33.515 m²
Área construída: 233.704 m²
Pavimentos: 8 / 17 / 17 / 31
Altura total: 40m / 80m / 80m / 134m
Tipo: Institucional
Matéria publicada originalmente na revista aU.