Quarta-Feira, 22 de Marco de 2023

Entorno preservado

Anápolis recebe primeiro complexo de uso misto voltado para o segmento de saúde. Sondagem precisa revela características do solo e garante a integridade de construções vizinhas. Por Gustavo Curcio e Pedro Zuccolotto

O projeto imobiliário contará com shopping, torre residencial, centro clínico médico e um moderno hospital que contará com consultoria do Sírio Libanês e trará serviços inovadores como atendi mento domiciliar em saúde para moradores do residencial. Os investimentos serão da ordem de R$ 190 milhões. Anápolis se consolidou como uma das cidades mais
competitivas do estado de Goiás e tem atraído o interesse de grandes grupos econômicos do País. Com a terceira maior população do estado do Centro-Oeste, (cerca de 400 mil habitantes, segundo o IBGE) e o segundo maior Produto Interno
Bruto (PIB) do Estado de Goiás, que em 2016, ficou em mais de 13 bilhões de reais, representando 7,2% do PIB do Estado, a cidade integra o eixo de desenvolvimento Brasília-Goiânia-Anápolis, que concentra com seus entornos um PIB de R$ 295 bilhões e reúnem 7,5 milhões de consumidores. Recente pesquisa da Urbam System classificou a cidade entre as cem cidades mais competitivas do País e apontou crescimento de 15 pontos no ranking dos melhores municípios para fazer negócios em 2018. “Anápolis é o ponto de encontro de quatro rodovias federais (as BR-020, 060, 153 e 414), com forte potencial logístico e industrial, colocando o município na rota de grandes investimentos de diversos setores econômicos, incluindo o imobiliário”, explica Fernando Fonseca de Oliveira Filho, engenheiro, diretor da ABL Prime e sócio do Gran Life
Medical Complex.

Devido sua forte atividade industrial, Anápolis também é a principal cidade importadora de Goiás, tendo concentrado quase 45% das importações do Estado entre insumos para produção de medicamentos, máquinas e peças automotivas, etc., no ano de 2018, conforme dados da Síntese de Indicadores Socioeconômicos do Instituto Mauro Borges (IMB). “Em março/2018, a Brain – Bureau de Inteligência Corporativa, uma empresa de inteligência estratégica, pesquisa e consultoria em negócios, com atuação nacional, realizou um estudo de mercado para validação da vocação, produto e diferenciais
competitivos do empreendimento Gran Life, resultando na confirmação da carência e assertividade deste conceito de complexo mixed-use voltado para a área de saúde na região de Anapólis/GO”, mostra Fernando.

A região de Goiânia tem se consolidado como um pólo de verticalização, com alguns dos mais altos edifícios brasileiros. Nesse sentido, a grandeza do empreendimento que se estende para a cidade vizinha deve abarcar a igual extensão da tendência das alturas para esta região. “A localização, o adensamento de regiões centrais, infraestrutura privilegiada e ritmo de crescimento de Anápolis/GO, proporciona a intensificação da verticalização na cidade, oferecendo maior segurança, infraestrutura e conveniência”, explica Fernando.

Demanda de saúde

A cidade é uma das 18 regiões de saúde de Goiás, sendo referência direta para dez cidades vizinhas e indiretamente para outros 50 municípios que integram a Macrorregião Centro-Norte. Atualmente Anápolis conta com cerca de 680 leitos, dos quais 85 são UTIs [Unidades de Terapia Intensiva], para chegar ao índice mínimo estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 3 a 5 leitos médicos para cada mil habitantes, a cidade teria que criar no mínimo mais 1.200 leitos

A tendência de verticalização também foi observada em estudos encomendados pelo grupo que está investindo na cidade e construindo seu primeiro complexo de uso misto. O projeto imobiliário contará com shopping, torre residencial, centro
clínico e um moderno hospital que contará com consultoria do Sírio Libanês e trará serviços inovadores como atendimento domiciliar em saúde para moradores do residencial. Os investimentos serão da ordem de 190 milhões de reais.

Segundo levantamento, a cidade tem um índice baixíssimo de verticalização, somente 5,2% do total de residências são apartamentos. No primeiro raio de um quilômetro do empreendimento o índice de verticalização chega a 27%, representando menos de 1/3 da região central, o que demonstra uma nítida vocação para verticalização na região. A pesquisa mostrou ainda que existe uma necessidade de mais de 14 mil unidades para locação de imóveis residenciais no
raio de dois quilômetros e 132 mil unidades familiares na região, o que representa 1/3 da população da cidade, confirmando a demanda de mercado para instalação do empreendimento.

Tudo em um só lugar

Conectividade e compartilhamento são as palavras chaves do complexo imobiliário Gran Life Medical Complex que terá a saúde como foco principal. A proposta, conforme explica Fernando, é agregar diversos serviços que poderão oferecer facilidade e como didade em um só lugar, tanto para usuários, como para profissionais médicos. Segundo ele, “ao investir no conceito de ter tudo em um só espaço, o projeto propõe a redução de custos e ganho de tempo gerando valor para o usuário, que contará com mais segurança, comodidade e conforto”.

Com 55 lojas, o shopping funcionará como o ponto de integração entre as áreas. Moradores do residencial terão acesso exclusivo ao centro de compras. Através dele, também se dará o acesso à torre Medical & Business e ao hospital. Com
localização no sexto pavimento do complexo, irá proporcionar uma vista privilegiada da cidade, com uma recepção de triagem e área de espera com disposição de atividades, onde a intenção é oferecer uma espera mais agradável.

O shopping terá um Centro de Convenções no nono andar com dois auditórios que poderão ser utilizados para eventos diversos e contará com praça de alimentação, sistema de sonorização, sistema de circuito fechado de TV (CFTV) e estacionamento com vallet. A infraestrutura do espaço terá ainda central de carregamento de smartphones; tomadas USB; WI-FI na praça de alimentação e totens de pagamento para estacionamento. “Nesta vanguarda de desenvolvimento, inovação, tecnologia e gestão, a ABL Prime, incorporadora, gerenciadora e administradora do futuro condomínio Gran Life é uma empresa full service, que possui expertise para atender e gerenciar, sob medida, todas as fases de um empreendimento; desde sua concepção, desenvolvimento, comercialização, implantação e administração, atendendo a variados tipos de produtos imobiliários, como: loteamentos, condomínios residenciais, condomínios comerciais, shopping centers, complexos multiusos, hotéis e resorts”, garante Fernando.

Vista aérea da gleba, com a parôquia Sant’Anna de Anápolis dividindo os limites da quadra.

Hospital

Com modelagem feita a partir de consultoria do Sírio Libanês, o Hospital contará com infraestrutura necessária para o equipamento, tendo inclusive seus corredores de acesso todos adequados para facilitar locomoção.

O projeto, desenvolvido de acordo com a norma RDC-50 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com 7.459 m² de área construída, prevê que hajam 85 leitos convencionais e outros 20 de UTI. Serão seis salas de cirurgia, sendo uma delas hemodinâmica. Haverá também área de pronto atendimento. “Com a parceria do Hospital Sírio Libanês, por meio dos serviços de consultoria, a experiência em gestão e o pioneirismo, a proposta do Gran Life Medical Center é oferecer a possibilidade de tratamento multidisciplinar, com realização de consultas médicas de várias especialidades, realização de
exames laboratoriais e de imagem, terapias complementares e até compra de medicamentos em um mesmo local”, conta Fernando. O Gran Life integrará, ao lado do Orion (que tem gestão do Hospital Albert Einstein) um importante eixo de excelência em saúde no eixo Brasília-Goiânia-Anápolis.

Outro destaque é a previsão de instalação de heliponto no empreendimento, que possibilitará agilidade no transporte de pacientes e de órgãos para transplante, por exemplo. A torre Medical & Business também terá elevadores de maca que permitirá a verticalização de pacientes entre as diversas clínicas e o hospital, além de permitir o acesso médico exclusivo é monitorado dos profissionais de saúde diretamente ao interior do hospital.

Fachada do hospital

Medical & Business

Com 252 salas, a Medical & Business será mais do que um espaço para se instalar consultórios. Ela terá tecnologia agregada para otimizar o atendimento dos serviços de saúde. A partir de sua experiência full service de desenvolvimento de empreendimentos e gestão de shoppings e hotéis pelo País, a ABL Prime, sócia do empreendimento, haverá inovações para tornar mais eficiente o tráfego de pessoas e tornar mais confortável o tempo de espera das consultas médicas.

O empreendimento terá um moderno sistema de Enterprise Resource Planning (ERP), que integra todos os dados e processos de uma organização, permitindo as clínicas se integrarem ao complexo e compartilhar destes dados e dos seus benefícios, o que tornará mais prático que profissionais de saúde e seus pacientes façam o gerenciamento da agenda
médica, desde a marcação da consulta, passando pela confirmação e até a chamada do paciente para o consultório, tudo por meio de um aplicativo de celular.

“Dessa forma, o paciente não precisará esperar sentado e sem atividade até o momento de ser atendido. Ele poderá aguardar circulando pelo empreendimento, fazendo compras, passeando na praça de alimentação ou realizando algum serviço bancário, por exemplo, enquanto é chamado via aplicativo em seu celular”, pontuou Fernando. Para quem não fizer uso do aplicativo, haverá uma recepção central no shopping para receber os pacientes.

O ERP também possibilitará salvar todo o prontuário médico do paciente por meio do cadastro no aplicativo, facilitando o acompanhamento e o tratamento com multiprofissionais que atendam no Gran Life e no hospital do complexo.

O complexo contará com oferta de serviços variados inseridos no programa chamado Gran Plus. Na área médica e business haverá serviços com como concierge, carro compartilhado, serviços de contabilidade, jurídicos e de faturamento que poderão ser contratados na modalidade pay-per-use.

Home Service

A torre residencial foi pensada para atender às demandas recentes, tendo em vista o rearranjo familiar, de famílias mais compactas, e do aumento da longevidade do brasileiro. Para atender essa demanda, o projeto propõe o primeiro home residence de um quarto da cidade, oferecendo também unidades com dois quartos.

O destaque será para a praticidade, pois a integração com o complexo vai ampliar a conveniência para os moradores que poderão usar todos os serviços pagando somente pelo tempo de uso.

Um exemplo será a conveniência para os idosos que moram sozinhos, pois poderão ter a facilidade do Gran Sênior Care (tipo de serviço de atendimento domiciliar em saúde) do centro clínico integrado ao complexo, inserido no sistema
de concierge.

O residencial, que terá acesso totalmente independente do hospital, da torre de consultórios e do shopping, contará com equipamentos como piscina coberta, sauna, churrasqueira, salão de festa, porte-cochère, academia, salão gourmet, brinquedoteca, playground, salão de jogos, home cinema e miniquadra (basquete ou futsal) e sistema de WI-FI nas áreas
comuns e tomadas USB, além de ter um rooftop, onde será instalado um restaurante.

Como diferenciais haverá espaço de leitura, solarium, terraço contemplativo, ferramentaria, bicicletas compartilhadas, esporte bar, horta urbana, central de autosocorro (pneu e bateria) e serviços pay-per-use para lavacar, concierge, passeio pet, banho pet, personal, babá, faxineira e etc.

Características do solo

Durante o processo de análise dos relatórios de sondagem dos 14 furos de SPT percebeu-se um solo com predominância de grãos finos (Argila e Silte) com uma consistência nos primeiros metros variando entre mole e rija, o que poderia indicar a necessidade de utilização de fundações profundas para conseguir respostas adequadas do solo ao porte da edificação. “As sonda gens foram de extrema importância para se poder definir os parâmetros de solo, como coesão e ângulo de atrito, a serem considera dos nos modelos de cálculos dos elementos de contenção”, explica o engenheiro Alessandro Araújo Isaac, gerente de projetos ABL Prime e responsável técnico pela obra. “A partir das sondagens foi possível entender que o solo de forma geral apresentaria um com portamento argiloso, podendo se considerar inicialmente em projeto uma coesão considerável”, completa o engenheiro projetista Carlos Eduardo Rocha de Assis.

Segundo o engenheiro Ademar Toyonori Hirata, que atua ao lado de Carlos, foi solicitada, também, a execução de ensaios complementares para a determinação do peso específico, coesão e ângulo de atrito para as profundidades de 3 metros e 6 metros. Segundo os especialistas, de posse dos resultados dos novos ensaios, foi possível melhorar ainda mais os parâmetros de cálculo possibilitando uma diminuição considerável de esforços na estrutura de contenção. A partir da sondagem, também se pode definir a necessidade de utilização de elementos de contenção que pudessem ser executados. Optou-se pelas estacas justapostas de hélice-contínua associadas com tirantes passivos e ativos para garantir uma execução rápida e eficiente.

O procedimento da sondagem

A sondagem foi iniciada com emprego do trado-concha até a profundidade de 1 metro, seguindo-se a instalação até essa profundidade do primeiro segmento do tubo de revestimento dotado de sapata cortante. Nas operações subsequentes de perfuração, intercaladas às de ensaio e amostragem, foi utilizado trado helicoidal até se atingir o impenetrável ao trado e/ou nível d’água freático, após tal se utilizou o método de avanço por circulação de água “CA”.

O método de avanço por circulação de água (lavagem) é executado por meio da elevação da coluna de perfuração até uma altura de cerca de 30 centímetros e sua queda acompanhada de rotação exercida manualmente. Para tanto, procedeu-se ao avanço dos tubos de revestimento de tal modo que sua base permanecesse sempre alguns centímetros acima da cota de realização do respectivo SPT.

Os ensaios penetrométricos SPT Standard Penetration Test foram realizados de acordo com a Norma ABNT NBR 6484 Solo – Sondagens de simples reconhecimento com SPT – Método de Ensaio, que consiste na cravação de um amostrador padrão de 50,80 milímetros de diâmetro externo e 41,28 milímetros de diâmetro interno, tipo Raymond bipartido. Tomando-se como referência o topo do tubo de revestimento, assinalou-se com giz na coluna de perfuração um segmento de 45 cm dividido em três trechos de 15 cm. Este amostrador foi cravado no solo, através do impacto causado pelo hasteamento de um martelo padrão de 65 kg, caindo livremente de uma altura de 75 cm sobre a coluna de perfuração constituída por hastes de Ø1. A queda livre e a altura de 75 cm foram garantidas pela utilização do Disparador do Martelo e cada queda correspondeu a um golpe e foram aplicados tantos golpes quantos necessários para a cravação total do amostrador. Foram anotados o número de golpes e a penetração (em centímetro) para cada trecho de 15 cm do amostrador. O valor da resistência à penetração (“N”) consistiu no número de golpes necessários à cravação dos 30 cm finais.

Amostragem

As amostras de solos obtidas nas diversas sondagens realizadas foram coletadas nos avanços dos ensaios SPT (sondagens percussivas), até se atingir “impenetrável” ao ensaio SPT. A cada ensaio penetrométrico (SPT), a amostra recuperada no bico amostrador foi imediatamente acondicionada em saco plástico apropriado, devidamente identificado.

Ao final da sondagem, as amostras foram conduzidas a SETE Engenharia, foram submetidas às análises táctil-visuais e caracterizações geológico-geotécnicas.

As amostras coletadas das sondagens foram classificadas táctil-visualmente conforme os parâmetros geológico-geotécnicos e agrupadas em diferentes horizontes, os quais, juntamente com os resultados de penetração ao SPT – sob a forma de gráficos de penetração em “golpes/30 cm finas, isto é, segundo e terceiro trecho” – permitiu a elaboração dos perfis individuais de sondagem (logs).

Leituras do Nível d’Água Freático (NA)

Os valores dos níveis d`água freáticos (NA) foram determinados por meio de leituras da profundidade (em metro) realizadas durante os serviços e após sua estabilização. Utilizou-se para tal procedimento um medidor elétrico de nível d’água composto de um eletrodo que, ao entrar em contato com a água, emite um sinal de audiofreqüência transmitido por
meio de um cabo elétrico tipo AF 1 x 24 (AWG T). O sinal é captado na superfície e transmitido sonoramente por meio de um equipamento de alarme.

As fundações

“Do ponto de vista de fundações vale-se dizer que a baixa capacidade de carga nas primeiras camadas e o nível considerável de cargas da estrutura levou a conclusão de que fundações profundas eram as mais adequadas”, explica Alessandro. Sobre a preservação da integridade das construções vizinhas, incluindo a Paróquia Sant’Ana de Anápolis, optou-se por estacas do tipo hélice-contínua. “Diante da existência de edifícios que poderiam sofrer com a execução de elementos
cravados em terreno e da coletânea de experiência positivas na região, as estacas do tipo hélice-contínua foram as escolhidas para o empreendimento”, completa.

No projeto de contenção, o nível de topo das vigas de coroamento sempre foi adotado pensando em não permitir um descalçamento na região da igreja para evitar o surgimento de qualquer fissura devido a algum deslocamento horizontal. “Além disso, as estacas em hélice-contínua tanto para contenção quanto para a fundação foram adotadas em detrimento de elementos cravados para evitar a vibração da igreja, o que poderia causar danos na mesma”, explica Alessandro.

Dados da sondagem nortearam o projeto

A principal diferença encontrada entre os levantamentos foram os parâmetros do solo encontrados nos dois ensaios de cisalhamento direto. “Esses ensaios forneceram melhores parâmetros de coesão do que os estimados por meio da literatura existente o que possibilitou a execução de um projeto mais econômico, eficiente e seguro”, explicam os engenheiros. Vale lembrar que as provas de carga que serão executadas serão de extrema importância para validar as profundidades obtidas por meio de métodos semi-empíricos.

Matéria publicada originalmente na revista Téchne.

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