Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

De volta às raízes: o Mercado de Origem

Projeto de BH busca retomar antigas tradições de troca da agricultura familiar

O Mercado de Origem nasce da parceria entre a Fundação Doimo e a Emater. Sua proposta é a de ser um espaço para a troca de conhecimento e para a realização de negócios relacionados à agricultura familiar, que é responsável por 70% dos alimentos que estão na mesa dos brasileiros.

Em outras palavras, o Mercado é um entreposto bem estruturado e confortável onde pequenos produtores oferecerão uma ampla gama de gêneros alimentícios in natura ou processados de forma artesanal ou em pequena escala. Os produtos virão diretamente do campo para a cidade e a venda será feita diretamente para o consumidor final ou a pequenos revendedores, assim eliminando atravessadores.

Além da oportunidade de adquirir produtos com origem certificada, os frequentadores vivenciarão no mercado uma verdadeira experiência de compra, feita de forma sustentável, tanto em termos ambientais como sociais e econômicos. A tônica estará no resgate de valores como os do artesanal, natural, orgânico, simples, original e manual, com o incentivo e empoderamento dos pequenos produtores.

Localização

Ao retomar os antigos conceitos dos mercados municipais, ou seja, conectando de forma mais direta quem produz e quem consome, o Mercado de Origem segue uma tendência mundial. Para que funcione, a localização é primordial e o empreendimento está estrategicamente localizado na região sul de Belo Horizonte, muito próximo a equipamentos comerciais e de lazer consolidados, como o BHShopping, LeroyMerlin e BH Outlet, dentre outros – região que concentra o maior PIB da capital mineira. Ao mesmo tempo, pode ser facilmente acessado pela população da região metropolitana, através da BR-040/356 e do Anel Rodoviário.

Estrutura

Com 300 lojas e 1.200 vagas de estacionamento em 3 níveis de garagem coberta, o Mercado alcançará 14.000 m² de área construída em sua primeira etapa. Serão quatro andares destinados à venda de produtos da agricultura familiar certificados e aprovados na inspeção sanitária para o consumo. Os pavimentos serão conectados por núcleos de elevadores e escadas fechadas nas extremidades do mall e por escadas abertas no centro.

O Mercado terá uma estrutura completa para receber eventos de pequeno, médio e grande porte, incluindo um terraço panorâmico e de lazer com mais de 2.700 m². Também farão parte do complexo um Espaço Multiuso, Espaço Kids, Centro de Beleza e Saúde, Cozinha Show e Ilhas Gourmet. Uma fazendinha urbana com horta orgânica e animais, incluindo peixes e aves complementam o mix. A previsão é que todo o empreendimento seja gerido por um sofisticado sistema de informações que potencialize sua logística e capacidade de armazenagem e distribuição.

Arquitetura

O projeto do Mercado de Origem marca a retomada da arquitetura dos mercados em Belo Horizonte. Como explica o arquiteto Afonso Walace, da Dávila Arquitetura, o novo empreendimento é cheio de referências aos antigos espaços mercantis da capital mineira. “Antes de chegarmos ao conceito do Origem, pesquisamos alguns mercados de BH, principalmente à antiga Feira de Amostras de BH, localizada na Praça Rio Branco”, afirma Afonso, ratificando a importância da preservação dos símbolos da cidade, mesmo que em releituras. “Identificamos um símbolo importante naquele edifício – a torre de relógio – que marcava verticalmente o empreendimento, em alinhamento com o eixo da Av. Afonso Pena. Achando interessante resgatar o conceito, aproveitamos uma caixa d’água preexistente, um volume que já existia e o transformamos em torre de relógio”, completa o arquiteto.

Na prática, reaproveitamento é a tônica do novo projeto que partiu de um prédio existente. Na prática, o Mercado de Origem, é uma ampla obra de retrofit com alteração no uso: um obsoleto prédio usado como motel sai de cena e a cidade ganha um mercado que concilia tradição e inovação. Além da economia com visão sustentável obtida com a readequação de um prédio existente, o Mercado de Origem tem a previsão de outros recursos contemporâneos favoráveis ao planeta, como a geração de energia fotovoltaica a partir de placas na cobertura.

Afonso Walace. Foto: Cadu Roch

Segundo Walace, a tipologia anterior do edifício foi favorável ao novo uso. A antiga modulação que conjugava uma sequência de quartos e vagas para os veículos dos usuários foi convertida nos boxes das lojas, enquanto as pistas de rolamento dos veículos se converteram em um mall com cobertura zenital. O resultado é espaço de sobra para os novos frequentadores, que poderão circular com muito conforto pelo mercado.

Além do relógio, outras referências aos antigos mercados de Belo Horizonte podem ser encontradas no design do Mercado de Origem, como explica o arquiteto da Dávila: “Procuramos incorporar no desenho elementos que remetem ao Mercado Central e ao Mercado Novo. Um exemplo são os cobogós, bem característicos daqueles espaços, cujo efeito reproduzimos utilizando novos materiais. Por outro lado, a fachada traz elementos diferenciados dos antigos mercados da capital, mas que podem ser lidos em outros edifícios da cidade.” Afonso cita como exemplo os frontões que marcam o visual do Mercado de Origem, que remontam à uma arquitetura clássica rústica de mercados e galpões vistos pelo mundo afora.” Outro efeito inovador é que no meio das paredes ‘cobogó’, imaginamos vitrines que conferem um toque contemporâneo surpreendente à edificação. Há também na fachada principal um terraço para o qual se abrem algumas lojas com potencial para serem ocupadas por bares e restaurantes. Estas lojas, por sua vez, terão a frente em tijolos aparentes e com a entrada protegida pelos característicos toldos que marcam cafés e mercearias europeias.

Nos interiores, a arquitetura desenvolvida pela Dávila reúne referências a vários mercados do mundo nos detalhes e acabamentos, enquanto mantém o espírito de ‘mineiridade’. Assim são as coberturas metálicas que ostentam um ‘toque’ amadeirado e os guarda-corpos, com uma estética mais rústica, em aço corten. Com instalações elétricas aparentes, o resultado é um ambiente acolhedor, com iluminação e ventilação naturais que associam o Mercado Central de BH e texturas mineiras à estética do Chelsea Market, grande sucesso de público na cada vez mais valorizada região de Chelsea, na cidade de New York. “Não tenho dúvidas que o Mercado de Origem será um grande sucesso não apenas por atender a uma questão social, de valorização das pessoas do campo, das pessoas e famílias que produzem, mas também pelo cuidado e carinho que dispensamos ao projeto como um todo.” afirma Afonso Walace.

Compartilhar artigo:

Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024
ArQXP – Experiências Inovadoras em Construção | Alameda Lorena, 800 | Cj. 602 CEP 01424-000 Tel.: 55 (11) 2619.0752