A crise sanitária modificou completamente o conceito de morar e a dinâmica das residências, já que as pessoas passaram a ficar mais tempo dentro de casa e exercer dentro dela atividades que antes eram realizadas em outros locais. Texto por: Louise Trevisan.
Em um primeiro momento, todos se adaptaram como puderam para fazer o home office, ajudar as crianças nas aulas online, malhar em casa, entre outras mudanças. Mas hoje, depois de um ano de pandemia, os espaços já estão nascendo adaptados a estas necessidades funcionais.
Pesquisa realizada pela Archademy, maior Market Network de Arquitetura e Design de Interiores do Brasil, durante o ano de 2020 demonstra que houve um aumento do interesse por reformar o lar, o que levou também ao aumento do interesse na compra de móveis. O estudo “O impacto comercial da COVID-19 para Arquitetos e Designers de Interiores”, revela que mais de 85% dos escritórios geraram propostas no período de isolamento social.
Participaram da pesquisa 650 escritórios de todo o país. Pelos dados, 44,3% dos escritórios receberam demandas diferentes das tradicionais, com propostas de adequação de ambientes à nova realidade em consequência dos reflexos da pandemia. No segmento residencial, 59,5% das propostas pediam reformas no layout geral da casa. Ao todo, 77,5% dos escritórios receberam solicitações de projetos focados no lar. Dos pedidos, 50,5% abrangiam adaptação das casas para home office, enquanto 47,5% envolviam também adequação dos espaços de convivência da família e 21,5% incluíam reformatação do ambiente para crianças.
Esta não é a primeira vez na história da humanidade que uma epidemia é fator crucial para a reinvenção dos moldes de design para as residências. Boa parte do que se vê no design de interiores e no design de mobiliário contemporâneos surgiu em decorrência de outras grandes crises de saúde pública, como, por exemplo, a pandemia de gripe espanhola de 1918.
Segundo outro levantamento da Archademy, em 2020 houve um crescimento do interesse também pela renovação do mobiliário. “A casa deixou de ser um ambiente de passagem para voltar a ser um ambiente de permanência. Inclusive, deixou de ter “uma coisa em cada lugar”, para ser o “lugar de todas as coisas” e isso aumentou muito o consumo e renovação de mobiliário e produtos no geral”, analisa Raphael Tristão, CEO da Archademy.
Priorização de áreas externas
O longo período de permanência em casa leva as pessoas a sentirem necessidade de se relacionar com as áreas externas. Neste sentido, materiais transparentes que façam a integração dos espaços são muito bem recebidos, assim como aqueles que remetem às características da natureza, como pedras, madeiras, elementos como a água.
Materiais com apelo tátil
Os conceitos de conforto e tranquilidade são fundamentais para quem fica mais tempo em casa e, baseado nisso, materiais com apelo tátil agradável ao usuário, sejam eles macios, maleáveis, com permeabilidade e conforto térmico, ocupam um espaço considerável como parte dos revestimentos de assentos, cortinas e tecidos nos ambientes internos.
Fácil limpeza
Ao ficar mais em casa, os espaços internos são mais utilizados e, por consequência, necessitam ser projetados com materiais que possuam propriedades de fácil limpeza e manutenção. “Por isso, as superfícies lisas e menos rugosas têm sido priorizadas por garantir melhor higienização”, conta Beth Ferraz, coordenadora do curso de Design de Interiores da Panamericana Escola de Arte e Design.
Reformulação de halls de entrada
Com o aumento vertiginoso das compras pela internet e pedidos de comida por aplicativos, as entradas dos condomínios e residências precisaram passar por mudanças e agora estão sendo reformuladas como espaços pensados para melhorar a dinâmica das entregas, para que sejam mais práticas e seguras. “Esses espaços estão sendo repensados e redecorados, com mobiliário adequado para manter o distanciamento que o momento requer”, explica Beth.
Utilização de sapateiras
Cada vez mais, as pessoas adotam o hábito de retirar os sapatos antes de entrar em casa. Portanto, a criação de sapateiras adequadas para deixá-los do lado de fora ou na entrada dos lares vem se mostrando uma forte tendência para o design de mobiliário – e deve ficar.
Acessórios incorporados ao design
Equipamentos como computadores, monitores, impressoras, roteadores e nobreaks passaram a ocupar o mobiliário – que também evoluiu e ganhou um estilo mais industrial. A tecnologia aliada ao design produziu ainda acessórios de usos variados com materiais, cores e diferentes texturas – tais como porta-fones de ouvido, capas de tablets, caixas de som, entre outras – que organizam as questões estéticas do espaço.