Terca-Feira, 26 de Setembro de 2023

Arquitetura e natureza: mimetismo no Chiloé

Inaugurado em 2011, hotel localizado no arquipélago de mesmo nome, ao sul do Chile, recebe ampliação que dobrou a capacidade de hóspedes. Fotos Divulgação

O grupo de hotéis Tierra (Patagônia, Atacama e Chiloé) tem como uma de suas marcas a arquitetura adaptada às técnicas locais e o mimetismo da implantação ao cenário natural de cada um dos ecossistemas nos quais as unidades foram construídas. Recentemente, o Tierra Chiloé — que passou por ampliação que dobrou a capacidade de 12 para 24 apartamentos — foi destacado pela Conde Nast Traveler Hot List, na lista de Travel + Leisure e em Fodor’s 100, surpreendendo por sua   arquitetura vanguardista, que resgata, segundo o jure, a identidade do arquipélago de Chiloé. Além de um grande número de ilhas de menor tamanho, a região situado ao sul do Chile compreende a Ilha Grande de Chiloé, a quinta maior da América do Sul (depois da Terra do Fogo e as ilhas brasileiras de MarajóBananal e Tupinambarana).

O arquipélago tem uma população de cerca de 150 mil pessoas, e uma superfície de 9181 km².

Obra da Mobil Arquitectos (Sebastián Morandé, Patricio Browne e Antonio Lipthay), o hotel foi construído em 2011 com o nome de Refugia, com uma superfície de 1.250 metros quadrados, implantado em um terreno de 10 hectares com saida para o mar. “O hotel foi concebido como um novo ambiente da própria natureza adicionado à paisagem local”, contam os arquitetos. Segundo os profissionais, o projeto é uma combinação dos elementos naturais e técnicas de construção do próprio local aliados ao design contemporâneo e à tecnologia.

Arquitetura inspirada nas tradicionais  “palafitas” da ilha (casas construídas sobre pilotis à beira mar), tem um desenho geométrico sustentável, que oferece um ambiente íntimo e acolhedor. Após um estudo minucioso sobre as condições climáticas e topográficas do terreno, os arquitetos do hotel chegaram a uma proposta onde otimizou-se o uso de fontes naturais de energia. “O volume não interfere na paisagem local, mas invoca a materialidade e a cultura da ilha onde foi construído. Privilegiou-se, sobretudo, as vistas do Oceano Pacífico e da Cordilheira dos Andes”, contam os arquitetos.

Seguindo as antigas técnicas chilotas de carpintaria, o hotel que tem estrutura mista metálica e de concreto armado — além de muros de contenção de cortina atirantada — foi revestido com as clássicas telhas de madeira de alerce, em  um trabalho realizado junto à comunidade local. O Alerce, é uma espécie milenar do sul do Chile de lento crescimento e da família das araucárias. Leve e resistente à umidade, é de fácil manejo por ser macia e apresenta pequena capacidade mecânica à flexão, considerada resistente em relação ao peso. Devido à grande exploração, pode ser encontrada atualmente apenas em áreas específicas da Cordilheira dos Andes e na ilha de Chiloé.

O projeto

“A implantação foi pensada de foram a promover uma espécie de ponte imaginária que que conecta os elementos naturais dos dois lados, e não altera de forma alguma a topografia original da gleba”. Esta ponte, segundo os arquitetos, suspende para o segundo plano os apartamentos, que têm o belvedere privilegiado, e coloca as áreas comuns sob uma cobertura que projeta o observador para longe e promove a máxima entreada de luz. A lógica do design de interiores reforça a cultura local, e pomove a relação entre interior e exeterior, com uma mescla de memória local e valorização da paisagem ao redor. 

Volume suspenso

Sobre pilares de concreto armado, o volume revestido de telhas de madeira — recurso estético que resulta em conforto térmico — parece flutuar sobre o talude. A topografia permanece intacta, salvo pelos muros de contenção, erguidos por segurança. A cobertura das áreas comuns, que é a base dos apartamentos dispostos no segundo nível se projeta sobre a ribanceira e dá um efeito de marquise que emoldura a paisagem. O contraste de luz entre dentro e fora promnove a valorização do cromatismo natural em torno do hotel. A caixilharia discreta, dá estanqueidade à fachada e bloquei o vento excessivo vindo mar. Fixada sobre a base de concreto estende-se esguia até os limites da cobertura revestida de madeira. A paleta de cores limita-se ao cinze natural do concreto, ao tom avermelhado da alerce.

Dados da obra

Área construída: 2.552 m2 (sendo 1.274 m2 da ampliação)
Conclusão da primeira fase: 2011
Conclusão da ampliação: 2017 (segunda ala)

Ficha técnica

Arquitetura: Mobil Arquitectos  —Sebastián Morandé, Patricio Browne e Antonio Lipthay
Arquitetos colaboradores: Sylvain Eymard-duvernay e Martin Basch
Construção: Constructora Lahuen
Inspeção técnica da obra: Juan Eduardo Mujica, Octavio Ayancan e Fabian Ketterer
Iluminação: Greene-düring Iluminación — Bárbara Greene e Tania Düring Interiores: Alexandra Edwards e Carolina Delpiano

Conteúdo publicado originalmente pela Revista aU

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