Concluída em 2022, o projeto da ARQBR Arquitetura e Urbanismo revela o horizonte da capital brasileira sem se desvincular da intimidade do espaço interno. Texto: Bruno Henrique Silva / Fotos: Joana França.
Fundada pelos arquitetos André Velloso e Eder Alencar, a ARQBR Arquitetura e Urbanismo trabalha com variados projetos, que vão desde design de interiores, passando por arquitetura residencial e atingindo espaços culturais e institucionais. Com esse vasto repertório, o escritório se comprometeu na concepção de um edifício para a Paróquia da Sagrada Família, tendo como ponto de referência a relação entre espiritualidade, natureza e comunidade. O sagrado, segundo a visão dos envolvidos, renova-se no contato com a natureza, evocando a presença divina. Além disso, enxerga-se a arquitetura como um lugar passível de abrigar manifestações do sagrado por aqueles que usufruem do espaço. Dessa forma, ergueu-se um edifício circular que acolhe os fiéis próximos ao altar.

Vista da Estrada Parque Indústria e Abastecimento e nova Paróquia da Sagrada Família. Foto: Joana França.
Desde sua concepção por Lucio Costa, a cidade de Brasília traz a perspectiva de posicionar a cidade em meio ao horizonte na criação da paisagem, levando a conexão entre observador e ambiente. A cidade, portanto, fica marcada por um caráter bucólico ao evidenciar a proximidade com a natureza selvagem do cerrado.


Posicionamento da paróquia em meio a paisagem de Brasília. Fotos: Joana França.
Ainda em sua construção, Brasília foi pensada no sentido de continuidade e visibilidade do coletivo urbano por meio das vias. A nova paróquia ganha lugar na capital do Brasil em um terreno às margens da EPIA (Estrada Parque Indústria e Abastecimento), um importante componente do sistema viário. Contudo, essa estrada passou por recentes transformações que ampliaram o tráfego, resultando no corte de quase todas as árvores para acomodar as novas faixas, perda do caráter bucólico e desvio da função urbana inicial da estrada.


Entrada da paróquia. Fotos: Joana França.
Pensando na construção original de Brasília, o projeto da Paróquia da Sagrada Família incorpora algumas premissas do local onde se insere. Em primeiro momento, o edifício é projetado para se integrar delicadamente na topografia, culminando em uma abertura ao horizonte numa conversa entre os espaços internos e externos. Nesse sentido, o edifício também é pensado como continuação da cidade numa integração entre público e privado. Finalmente, a paisagem é incorporada como elemento estruturante da configuração arquitetônica.



Espaços internos da Paróquia da Sagrada Família. Fotos: Joana França.
Sob a observação dessas premissas, foi desenvolvida uma cobertura em formato de anel circular em concreto que é elevada por seis pilares ligados à fundação. Assim, o espaço interno meio nível abaixo da cota natural do terreno recebe iluminação natural ao passo que permite visualizar a paisagem por meio de uma abertura rente ao rés-do-chão.
O projeto também é definido por dois eixos principais. O eixo noroeste-sudeste conecta o espaço mencionado, o anexo e o prédio na parte de trás, onde ocorrem as práticas paroquiais. Já o eixo nordeste-sudoeste preserva a vista contemplativa com o horizonte, por exemplo, para aqueles que cruzam a estrada em alta velocidade.


